São indígenas de tronco Macro-Jê (como os Xerente, Xakriabá, Apinajé e Xavante), mas também Tupi-Guarani (como os Guarani e Kaiowá) e Arawak (como os Terena). São comunidades quilombolas, como os Kalunga, os jalapoeiros e centenas de outras pelos sertões do Cerrado. São comunidades tradicionais, tão diversas como o próprio Cerrado e que têm suas vidas entrelaçadas nas árvores e plantas, bichos, chapadas, vales e águas da região, como as quebradeiras de coco-babaçu, raizeiras, geraizeiras, fecho de pasto, apanhadoras de flores sempre-vivas, benzedeiras, retireiras, pescadoras artesanais, vazanteiras e pantaneiras. São, ainda, as assentadas e assentados de reforma agrária e outras populações de base camponesa.
Se ainda há Cerrado em pé é porque esses povos estão com os pés no chão do Cerrado, lutando para permanecer, retomar e r-existir em seus territórios de direito. E é por isso que não existe defesa do Cerrado sem a defesa dos territórios do Cerrado, onde esses povos conservam e multiplicam essa rica biodiversidade por meio de seus modos de vida. A defesa dos territórios dos povos dos cerrados é, assim, o compromisso que deve guiar as lutas em defesa do Cerrado, em especial em um momento histórico marcado pelo esforço sistemático de poderes públicos e privados em promover a desterritorialização desses povos e comunidades.
O Cerrado é o berço das águas e promove o encontro por meio das águas. Da mesma forma, os povos do Cerrado são como as águas: crescem quando se encontram. E têm se encontrado cada vez mais nesse processo que construímos coletivamente entre tantos movimentos, organizações e pastorais sociais, povos e comunidades do Cerrado e pesquisadores/as, cujo diálogo contínuo de saberes deságua na e alimenta a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.