Campanha internacionaliza petição pela transformação do Cerrado em Patrimônio Nacional
Versões voltadas para o público norte americano, europeu e latino-americano foram lançadas para buscar apoio internacional, mostrando importância do Cerrado e a relação desses países com desmatamento do bioma
A petição que exige que a transformação dos biomas brasileiros Cerrado e Caatinga em Patrimônio Nacional já conta com mais de 180 mil assinaturas de apoio. Parte dessas assinaturas vêm dos Estados Unidos, e países da Europa e da América Latina, já que recentemente, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado lançou versões internacionais da petição.
A destruição do Cerrado, savana de maior biodiversidade do planeta que ocupa 25% do território do Brasil está ligada a países como Estados Unidos, Alemanha, Suécia e Holanda, por meio da cadeia produtiva de commodities como a soja, pela facilitação da compra de terras de forma irregular, ou ainda por meio de investimento especulativo em terras neste bioma por fundos de pensão. Os impactos do consumo de países da Europa e os EUA resulta na degradação ambiental do Cerrado e suas águas e na expulsão de povos e comunidades tradicionais do Cerrado e no acirramento de conflitos agrários.
As petições podem ser conferidas em:
www.change.org/ProtectOurSavanna (América do Norte e Europa)
www.change.org/ProtegeElCerrado (América Latina)
A produção de carne em alguns países na Europa está diretamente ligada ao desmatamento na América do Sul, aponta um relatório da organização de proteção ambiental Mighty Earth. No caso do Cerrado, desmatamento para dar lugar à soja – exportada para alimentar o gado nos países europeus. Além do desmatamento, o relatório destaca o uso de “enormes quantidades de fertilizantes químicos e pesticidas tóxicos, como o produto fitossanitário glifosato”.
De acordo com o jornal The New York Times “gigante norte-americana do investimento que administra as contas de aposentadoria de milhões de funcionários de universidades, professores de escolas públicas e outros trabalhadores, a TIAA-Cref se orgulha de promover valores socialmente responsáveis […], mas documentos demonstram que as incursões da TIAA-Cref à fronteira agrícola brasileira podem ter avançado na direção oposta. A gigante financeira e seus parceiros brasileiros despejaram centenas de milhões de dólares em aquisição de terras aráveis no Cerrado, uma imensa região à beira da floresta amazônica na qual vem acontecendo desmatamento em larga escala para expansão da agricultura, o que alimenta preocupações ambientais”. Outros países também fazem investimentos via fundos de pensão para aquisição de terras aqui no Brasil, como Holanda, Suécia e Alemanha.
Saiba mais:
Foreign pension funds and land grabbing in Brazil
In defence of the world’s most biodiverse savanna
Beef and Burger King still eating away at forests
Secrets of the brazilian Cerrado
Sobre a Campanha
Com o objetivo de alertar a sociedade para esse e outros impactos, mais de 50 organizações e movimentos sociais se uniram para lançar a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado em 2016. A campanha busca valorizar a biodiversidade e as culturas dos povos e comunidades do Cerrado, que lutam pela manutenção do bioma que é sua casa.
A água é o mote atual da Campanha (Sem Cerrado, sem água, sem vida) para reforçar o papel central do Cerrado no abastecimento de água do país. Sua relevância se estende a outros países da América do Sul, porque é em seu espaço territorial que se encontram as nascentes das três maiores bacias hidrográficas do continente: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata. Trata-se da única savana do planeta dotada de rios perenes.
As bacias hidrográficas que têm sua origem no Cerrado abastecem cerca de 40% da população brasileira e parte da população da Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. A Bacia Platina, que abriga o início das bacias do Paraná e do Paraguai, por sua vez, é também resultante de águas que surgem no Cerrado. Essas bacias juntam-se e formam a rede de drenagem que envolve o Rio da Prata, um dos mais importantes da América do Sul.
Saiba mais sobre a campanha www.semcerrado.org.br
Texto: Bianca Pyl