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Mulheres do Cerrado debatem gênero e território

 

Atividade reuniu mais de 60 mulheres e foi parte da programação do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado

todas 1024x682Foto: Luana Campos/Ecoa

A programação do IX Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, em Brasília (DF), também contou com um debate sobre gênero e território, durante a oficina “Articulação de Mulheres do Cerrado: fortalecendo a resiliência, tecendo saberes e compartilhando experiências de resistência”.

A atividade reuniu mais de 60 mulheres na Tenda Dona Dijé. Dentre elas, quebradeiras de coco, indígenas, quilombolas, coletoras de baru, bocaiuva e frutos nativos. O objetivo? Fazer uma articulação comum contra a devastação do Cerrado, impulsionada pelo atual desmonte das políticas ambientais. O espaço foi organizado pela Ecoa (Ecologia e Ação), em parceria com ActionAid Brasil, Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, CEPF Cerrado, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IIEB) e Rede Cerrado.

Protagonistas no manejo, gestão e sustento dos recursos naturais nas comunidades onde vivem, as mulheres são fundamentais nas ações de conservação ambiental. No Cerrado, elas retiram sua subsistência por meio do extrativismo sustentável e contribuem para a manutenção do Bioma. Apenas no norte do Cerrado, por exemplo, 400 mil mulheres ganham a vida como quebradeiras de coco babaçu.

Pesquisadora e responsável pela Secretaria da Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal (CerraPan), Nathalia Ziolkowski, pontuou a importância de que o protagonismo das mulheres na manutenção dos modos de vida do Cerrado seja evidenciado. “Conservar, garantir a subsistência das pessoas, lutar pela soberania alimentar, promover um ambiente equilibrado, recuperar florestas e nascentes de água, são alguns exemplos de resiliência e superação atribuídos as mulheres cerrateiras”, destacou.

Beth Cardoso, do Programa Mulheres de Agroecologia (ANA/CTA), reforçou essa importância ao explicar que como a tarefa do cuidado foi delegado as mulheres, elas acabaram muito mais ligadas a alimentação e, portanto, ao cuidado com o ambiente, para garantir a própria saúde e de suas famílias. “A gente sabe que as nossas maiores aliadas são as mulheres, porque elas sabem que aquilo (agrotóxicos) faz mal, as mulheres sabem que aquilo provoca câncer e as mulheres sabem que elas não vão ser felizes enquanto estiverem aplicando veneno na produção”, observou.

Na alta bacia do Rio Miranda, a geração de renda pelo extrativismo sustentável da castanha do baru é um exemplo virtuoso e exitoso dessa relação. De acordo com Rosana Sampaio, do Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec) e da CerraPan, o processo, liderado principalmente pelas mulheres, ajuda a manter a vegetação nativa, fomenta o reflorestamento e o não-uso do fogo no manejo do solo. “Isso tem trazido resultados práticos, como a recuperação de áreas degradadas, reaparecimento de fauna silvestre, a salvaguarda de polinizadores e a produção de água na região. Atualmente cerca de 80 famílias vivem do baru, sendo as mulheres a maioria na fase de coleta e quebra do fruto”.

Os problemas enfrentandos pelas mulheres também foram debatidos durante o encontro. Edeltrudes de Oliveira, representante do Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras, falou sobre a pressão que a comunidade tradicional Antônio Maria Coelho sofre pelas empresas de mineração e siderurgia que há 15 anos tentam retirá-los do local. Edeltrudes, conhecida como Edil, vive e trabalha na comunidade com o extrativismo da bocaiuva (ou macaúba). Ela relatou que a atividade tem sido cada vez mais difícil, já que as empresas derrubam as palmeiras nativas onde coletam os frutos.

“Nós lutamos pela nossa vida, porque o nosso território é a nossa vida. Não sabemos viver fora dali. Estamos rodeados por essas empresas e sofrendo muito com a poluição, com a delimitação que eles impõem ao nosso espaço de trabalho. Por pressão das empresas muita gente da comunidade se mudou para a cidade e reclama até hoje que não consegue viver bem”, desabafou Edeltrudes.

O encontro na Tenda Dona Dijé é parte de uma agenda de rearticulação no Brasil para o debate sobre gênero, meio ambiente e conservação, iniciado no I Encontro de Mulheres do Cerrado, ocorrido em Luziânia (GO), no mês de junho de 2019, sucedido pelo II Encontro de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal (CerraPan), realizado em Campo Grande (MS), em julho de 2019.

Encaminhamentos foram tomados e as discussões devem seguir pelos próximos meses tratando de questões como a divisão do trabalho doméstico, incentivos e valorização da produção das mulheres, a geração de renda e a paridade nos espaços de decisão.


Texto e fotos: Luana Campos/Ecoa

Mulheres, Povos e comunidades