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Comunidade Brejo do Miguel sofre ataque no Cerrado Piauiense

No dia 2 de outubro de 2019, a Comunidade Brejo do Miguel, no município de Gilbués, sul do estado do Piauí, território tradicional ribeirinho brejeiro, foi novamente invadida por grileiros da região.

A invasão ocorreu em uma área de roça no toco e solta de animais que é utilizada há cerca de três gerações pela comunidade. Parte do cercamento que havia sido construído pela comunidade foi destruído por sete jagunços com o uso de motosserras. Estes foram avistados em trabalho por famílias da região e agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que encaminharam o flagrante ao Ministério Público Federal na cidade de Corrente (PI).

A Comunidade situa-se em uma área de difícil acesso e não possui telefonia móvel, dificultando a comunicação e execução das denúncias com rapidez. Moradores relatam frequentes ameaças verbais, como também o impedimento de acesso à algumas áreas de uso comum.

Desde o ano de 2016, a Comunidade vem sendo impactada por grandes empresas como Gás Butano e a Bradesco. O desmatamento tem sido a maior preocupação para a comunidade, já que a retirada do Cerrado e a devastação das áreas de brejo ameaçam os modos de vida e subsistência dos territórios tradicionais da região.

O avanço da grilagem de terras e do cercamento das áreas de uso e trabalho em Brejo do Miguel, traz diversos impactos à área de cerrado como também as formas tradicionais de produção. A Comunidade relata que só se utilizou das cercas para áreas de roçado e solta devido á constante ameaça de apropriação e invasão de suas terras por pretensos proprietários, que cada vez mais tem cerceado o direito de ir, vir e produzir.

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O território é constituído em duas Comunidades, Lagoa dos Martins e Brejo do Miguel, que vivem da coleta de frutos do Cerrado, principalmente o Buriti e Macaúba, como também da produção de alimentos e criação de animais em sistema de uso coletivo da terra. A Comunidade está localizada às margens do Rio Uruçuí Vermelho, que é um dos afluentes do Rio Parnaíba, fundamental para a manutenção e sobrevivência das comunidades ribeirinhas dos estados de Piauí e Maranhão.

A preservação do Cerrado, que é fonte das águas e nascentes dos rios, é essencial para a existência dos territórios tradicionais. Em relação mútua com biodiversidade do cerrado garantem a sua subsistência, além de atuarem como guardiões das águas, matas e serras.

As riquezas e a biodiversidade das serras e baixões do sul do Piauí tem atraído grandes capitais em busca de terras para especulação e produção matérias-primas para a exportação. A bacaba, o buriti e as áreas de brejo tem sido substituídas pelos monocultivos transgênicos da soja, do algodão, do eucalipto e do milho. Essa substituição do modo de vida tradicional para a produção do agronegócio faz parte de um projeto de morte arquitetado pelas empresas e pelo Estado não só para o sul do Piauí, mas também para as áreas de Cerrado do sul do Maranhão, oeste da Bahia e Tocantins, região também conhecida como MATOPIBA.

Diante disso, as organizações, movimentos, instituições e pastorais sociais que compõem a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado vem a público denunciar e repudiar as ações violentas e de repressão dos grileiros na região do Cerrado Piauiense. E solicitar a intervenção imediata dos órgãos competentes para a resolução da problemática. Visto que a violência e as ameaças têm se intensificado nos últimos meses. É necessário garantir a vida e reprodução dos modos de vida desses povos.


Informações: Comissão Pastoral da Terra – Piauí

Povos e comunidades, Conflitos