Em meio à pandemia, produção agroecológica vira cestas básicas para alimentar famílias do Tocantins
Atos de resistência ocorrem diariamente em comunidades tocantinenses a partir, por exemplo, da distribuição de cestas básicas com produtos agroecológicos produzidos por agricultores familiares
A agroecologia é vida e gera produção de alimentos que visa o bem-estar e a conservação da biodiversidade. É a promoção sustentável da agricultura, sem o uso de contaminantes e que contribui diretamente para o acesso à alimentos saudáveis para a sociedade. Essa é a luta diária de centenas de agricultores familiares de comunidades rurais, quilombolas e quebradeiras de coco da região do Bico do Papagaio (TO).
Atualmente no país, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) liberou, somente de janeiro 2019 a maio de 2020, 551 agrotóxicos (uma média de liberação de dois por dia). No entanto, em meio à pandemia, atos de resistência ocorrem diariamente a partir da distribuição de cestas básicas com produtos agroecológicos, produzidos por agricultores familiares.
A exemplo, pode ser citado a última ação da Alternativas para Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO) que ao lado de assentados, quebradeiras de coco, quilombolas e agricultores organizados na Cooperamazonia e na Cooperativa de Produção e Comercialização (COOAF-Bico), resolveram distribuir cestas básicas a centenas de outras famílias que estavam sem alimentação nesse período de pandemia.
A presidenta da COOAF-Bico de Esperantina, Maria Senhora Carvalho da Silva, relata que a ação foi oportuna e que as organizações APA-TO e a Rede Agroecológica contribuíram de forma significativa com as famílias da região do Bico do Papagaio. “É uma ação muito e que realmente chegou na hora certa que nós precisávamos. Chegou na hora que todos aqui precisavam vender suas produções, e ajudou muito aqueles que estão recebendo e aqueles que venderam os produtos da agricultura familiar”.
Maria ressalta ainda que a ação foi muito válida e todos ficaram muito gratos tanto com as ações da organização da Rede Bico, quanto às ações dos agricultores ajudarem uns aos outros. “Foi uma boa hora que serviu para as organizações e comunidades. Foi importante para refletir que só vai ter uma comercialização justa, se tiver organização da produção: desde a organização até a comercialização. Foi muito bom esse acontecimento”, explica.
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Nessa terceira e última etapa de entregas, 200 famílias foram beneficiadas, dos municípios de Axixá, São Bento, São Sebastião, Araguatins e Esperantina. O morador do Projeto de Assentamento Santa Cruz 2 (município de Araguatins), o jovem Matheus Santos Filho, técnico em agroecologia, expressou seus agradecimentos relembrando todas as suas vivências no assentamento.
“Sou filho de agricultor, me considero um jovem agricultor que mora no campo, e permaneço trabalhando. A partir da ação da Fundação do Banco do Brasil, juntamente com a APA-TO e a Rede Bico, eu fui um jovem que foi beneficiado, tendo a oportunidade de vender os produtos produzidos da propriedade dos meus avós, produtos completamente agroecológicos”.
Segundo ele, uma ação dessas motivam mais os jovens a permanecer no campo, trabalhando de forma sustentável e dando continuidade à sucessão rural. “É muito importante uma ação como esta porque incentiva o jovem cada vez permanecer e lutar por direitos iguais e, além disso, contribuir com diversas pessoas que estão necessitando de alimentos, pois muitas famílias tiveram dificuldades diante da pandemia. Além disso, são produtos agroecológicos, significa que está garantindo um alimento de qualidade na mesa de diversas pessoas que estão sem alimento e que agora estão sendo beneficiadas com esses alimentos sem uso de agrotóxicos”.
O jovem ressaltou ainda que a maioria desses alimentos consumidos são produzidos pela agricultura familiar, porém as pessoas não veem isso e não é muito divulgado. “Várias pessoas acham que tudo vem do agronegócio. É muito importante mostrar o quanto a nossa região tem um grande potencial. Tem agricultores que produzem de forma sustentável, e sua produção pode chegar à mesa de milhares de brasileiros”, conclui Matheus.
Texto e fotos: Daniela Souza / Comunicação/APA-TO