Cerrado, berço das águas, na rota devastadora do capital
O acesso à água potável, ao saneamento e à boa gestão dos ecossistemas de água doce são essenciais para a saúde humana, para a sustentabilidade ambiental e para a prosperidade econômica, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Contudo, ao redor do mundo, as comunidades estão sendo despojadas dos direitos comunitários à terra e à água, e os mais pobres, especialmente os povos negros, indígenas, as mulheres e as crianças, sofrem impactos desproporcionais que aumentam ainda mais sua vulnerabilidade.
A questão central não é a escassez em seus termos gerais, e sim um processo de exploração intensa e apropriação de águas, no qual o recurso vai perdendo seu caráter de bem comum e se tornando mercadoria, um instrumento de acumulação que tem como pressuposto sua privatização. Até os executivos do Fórum Econômico Mundial de Davos tiveram de reconhecer que a agropecuária em larga escala já é a responsável pelo consumo de 70% de toda a água doce disponível no planeta.
As históricas desigualdades no campo foram aprofundadas pelo agronegócio, formando cidades-polo de altíssimo PIB per capita (que cresceram ao passo que o êxodo rural aumentava), porém nas quais a concentração de terra e de renda, o alto desemprego, a falta de moradia e o precário acesso a serviços públicos deixam os novos trabalhadores rurais – grande parte dos quais expulsos de suas terras pelo avanço de latifúndios – ameaçados pela pobreza e pela falta de oportunidades em meio a trabalho sazonal, mal pagos e sem proteção social. O caso de Correntina, na Bahia, cidade que recentemente protagonizou um conflito por água com repercussões nacionais e internacionais, é exemplar: ao mesmo tempo que tem um PIB per capita anual superior a R$ 25 mil, a pobreza atinge 45% da população rural do município e 31,8% da população em geral; o índice de Gini é de 0,927 (muito elevado) e os latifúndios ocupam 75,35% da área total dos estabelecimentos rurais.
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