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(R)Existências no Cerrado: Websérie contará histórias de guardiãs e guardiões da sociobiodiversidade do bioma

Indígenas, camponeses(as), geraizeiros(as), retireiros(as), quilombolas, quebradeiras de coco, raizeiras, pescadores(as). Esses são apenas alguns dos povos e comunidades tradicionais que há séculos habitam o Cerrado, a savana mais biodiversa do planeta. Apesar do bioma ser alvo constante da destruição causada pelo avanço do agronegócio, pelos conflitos agrários por direitos territoriais e pelas queimadas criminosas, os povos do Cerrado (r)existem e não é de hoje.

O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km², cerca de 22% do território nacional. Por ter uma extensão vasta, passa pelos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além do Amapá, Roraima e Amazonas.

Considerado o berço das águas, no espaço territorial do bioma nascem águas que abastecem nosso país, incluindo seis das oito grandes bacias hidrográficas do Brasil: Amazônica, Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Paraguai, incluindo as águas que escoam para o Pantanal. Você, que agora lê este texto, provavelmente já tomou um copo de água que veio do Cerrado hoje.

Apesar de sua importância para a manutenção de milhares de vidas, mais da metade da mata nativa do Cerrado já foi destruída e, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 28,40 milhões de hectares do bioma foram desmatados entre 2001 e 2019. De acordo com o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil do MapBiomas, em 2019 o desmatamento no Cerrado bateu recorde e foi considerado o mais veloz do país, tendo 1.109 mil hectares sendo destruídos a cada dia.

Com ou sem pandemia, a destruição continua

Larissa Packer, advogada da GRAIN América Latina, nos ajuda a compreender as causas dessa devastação desenfreada. Em entrevista publicada pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado no Le Monde Diplomatique Brasil em julho deste ano, Packer afirma que existe uma relação direta com o modo como atua o agronegócio em nosso país. “Esses monocultivos de larga escala destinados à exportação precisam produzir numa intensidade que leva o agronegócio a considerar a floresta, a biodiversidade, e os povos que habitam como obstáculos ao desenvolvimento”, explica.

Dessa forma, são geradas as tensões e os conflitos agrários que há décadas se intensificam e fazem parte da rotina dos povos do campo, das águas e das florestas no Brasil. “Quando se passa o correntão e desmata-se a terra, ela se valoriza no minuto seguinte, os grileiros ganham muito dinheiro. Não tem como a gente desconsiderar que há um financiamento histórico, desde uma economia de plantation lá nos anos 1500 com os monocultivos de cana-de-açúcar”, destaca Larissa.

Entre 2003 e 2018, 40,5 % dos conflitos no campo registrados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) ocorreram no Cerrado e em suas áreas de transição, revelou estudo publicado no ano passado pelo professor e pesquisador Carlos Walter Porto-Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O dado contribui para a compreendermos a conjuntura de devastação e violências dos territórios do bioma.

Para Albetânia Souza, agente da CPT no estado da Bahia, nem a pandemia do novo coronavírus pôde proporcionar uma trégua para este cenário de conflitos. “A gente pode dizer que agronegócio não está em quarentena porque continua investindo contra os povos. A situação mais agravante é que além da grilagem e dos processos de violência contra os povos do Cerrado e do campo no geral, as comunidades têm que lidar com a situação do próprio vírus’’, conta.

Queimadas

Outro fator que agrava a situação do Cerrado são as queimadas. “Essa situação se agrava todo ano no período mais seco (entre maio e setembro), quando as queimadas se alastram com mais facilidade e o desmatamento se expande com intensidade ainda maior”, explica Diana Aguiar, assessora da Campanha em Defesa do Cerrado, em artigo publicado na semana passada no Le Monde Diplomatique Brasil.

Até julho de 2020, de acordo com dados do INPE, o Cerrado apresentou 5.310 focos – 36,2% do total registrado no país. Em reportagem divulgada pelo Jornal Brasil de Fato em 2 agosto de 2020, o bioma contabilizou 12 mil focos de fogo.

Apesar das divergências nas notificações e monitoramentos, uma coisa é certa: com ou sem pandemia, a destruição da sociobiodiversidade do Cerrado continua.

(R)Existências no Cerrado

Neste mês de setembro, período que celebramos o dia nacional do Cerrado (11/09), a Coordenação Ecumênica do Serviço (CESE), com o apoio de HEKS-EPER, convida você para conhecer histórias de lutas e resistências de pessoas que vivem nos cerrados do Brasil – sim, no plural, porque assim são as gentes e os saberes ancestrais que são guardados e conectados com a biodiversidade do Cerrado. 

Semanalmente, por meio dos canais de comunicação da CESE, a websérie “(R)Existências no Cerrado” contará histórias de comunidades e povos que tiveram parte de suas vidas destruídas pelo fogo em seus territórios, mas que encontraram forças para reerguer suas casas, plantar novamente suas roças e reorganizar seu trabalho e atividades do dia-a-dia.

 ”Os sinais de esperança brotam do chão, das águas e da resistência dos povos do cerrado. A CESE, através da websérie busca denunciar a destruição da sociobiodiversidade  e reafirmar a força e os os direitos dos povos do Cerrado. É necessário  trazer essas histórias para fazer contraponto à mídia convencional, que insiste em criminalizar organizações e movimentos sociais que lutam em defesa deste bioma’’, afirma Sônia Mota, diretora executiva da CESE.

Acompanhe o facebook, youtube e site da CESE para participar dessa prosa sobre os guardiões do berço das águas do nosso país.


Serviço

Websérie (R)Existências no Cerrado

Período de veiculação: setembro e outubro de 2020 nos canais de comunicação da CESE e da

Campanha Nacional em Defesa do Cerrado 

https:// www.cese.org.br

https://www.youtube.com/cesedireitos

https://www.instagram.com/cesedireitos

https://www.facebook.com/cese1973

Com a colaboração de Bruno Santiago / Campanha Nacional em Defesa do Cerrado