Nota de Repúdio: Articulação das CPT's do Cerrado contra o avanço da mineração nas Regiões do Cerrado
Lucro e Destruição
A Articulação das CPT 's do Cerrado, constituída pelos regionais de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Minas Gerais, vem a público repudiar o avanço da mineração nas regiões do cerrado e os impactos diretos sofridos pelas comunidades nos seus territórios. Repudiamos o protocolo assinado pelo Governo de Goiás, com intenções para facilitar a expansão da extração mineral no estado. São mineradoras de outros países como Luxemburgo, Bélgica, Austrália, Belarus, Reino Unido e Canadá que irão explorar as riquezas naturais do Cerrado, deixando um rastro de destruição e insegurança para as famílias e o meio ambiente, um dano irreparável para as comunidades tradicionais e assentamentos de Reforma Agrária e agricultura familiar do estado de Goiás, que sofrem com a contaminação das águas e a devastação do bioma.
No entanto, o minério extraído não será beneficiado no Brasil, sendo levado para outros países para que depois os brasileiros comprem o produto de volta já industrializado. Ou seja, a lógica de exportação de minérios e commodities remonta a mesma política econômica colonial, em que se vende matéria prima para comprar o produto industrializado. Essa política serve apenas para enriquecer ainda mais as grandes empresas, enquanto ficamos com os danos ambientais que em muitos casos são irreversíveis.
Um dos principais argumentos a favor da mineração é a geração de emprego, e o falso discurso de progresso e desenvolvimento, assim como uma mistura de manipulação e oportunismo por parte das mineradoras. Porém, esse argumento é falacioso na medida em que não leva em consideração a degradação ambiental e as comunidades tradicionais e camponesas da agricultura familiar, pescadores e geraizeiros que tem uma história de vida nesses lugares, mas são forçados a abandonarem suas terras para dar lugar à exploração de minérios que contaminam o solo e a água com metais pesados, além de oferecer risco à população conforme vimos em Mariana em (2015) e em Brumadinho (2019). Vale lembrar que a barragem da mineradora MOSAIC, (antiga Vale do Rio Doce) em Catalão (GO) já se rompeu uma vez e a de Crixás (GO), da empresa Serra Grande, propriedade da sul-africana Anglogold Ashanti, chegou a ser interditada pelo risco que oferece.
Em outras regiões do Cerrado essa realidade também é recorrente e as comunidades e o meio ambiente já sofrem com esses projetos de morte. Um exemplo claro é no Norte de Minas Gerais. O antigo “Projeto Vale do Rio Pardo” e atual “Projeto Bloco 8”, da mineradora SAM – Sul Americana de Metais, previsto para a região do Vale das Cancelas e que se estende até o sul da Bahia, é um projeto que representa a reiteração de um sistema de exploração mineral que já deu mais do que suficientes provas de falência e caos, levando em consideração as violações sofridas por comunidades tradicionais diante da instalação de mega empreendimentos, uma vez que seus direitos a água e ao modo de vida tradicional são constantemente ignorados. Esse projeto chega até o sul da Bahia, onde serão destruídos milhares de postos de trabalho na Costa do Cacau. O mineroduto do Bloco 8, somado ao impacto da construção do Porto Sul, na Bahia, desestruturará a economia da região que tem como base o trabalho de pescadores, agricultores, pequenos empresários e trabalhadores do turismo.
É lamentável a ganância das empresas e latifundiários que avançam na destruição do Cerrado e das nascentes que alimentam os rios, que aumentam a escassez de água, envenenam a terra e favorecem para o agravamento de doenças cancerígenas e do surgimento de novas pandemias, que conseqüentemente matam milhares de pessoas.
Concordar com a lógica do mercado que tem o lucro com fim em si mesmo, não faz sentido algum para a existência humana. Seja em uma visão antropocêntrica em que o importante é meramente garantir a perpetuação da espécie, a qual se baseia em que tudo que existe no universo, no planeta terra, assim como a natureza e a humanidade, é parte de uma criação Divina, que deve ser cuidada e respeitada.
A vida deve ser o ponto de partida e de chegada de toda ação e condição humana. O mercado (o lucro) não deve estar acima da Vida e da Dignidade Humana! Por isso os modos de vida e direito das comunidades tradicionais e camponesas devem ser respeitados.
Enquanto a mineração for objeto de ganância e lucro das grandes empresas, ameaçando e impactando as comunidades camponesas tradicionais e quilombolas, assentamentos da reforma agrária e da agricultura familiar e todos os povos que vivem no Cerrado, a Articulação das CPT's do Cerrado se posicionará sempre contra esse modelo de desenvolvimento que só alimenta a violência, conflitos no campo e promove injustiças. Solidarizamos-nos com as famílias impactadas que sofrem as consequências da atividade minerária. Por isso, levantamos nossas vozes para dizer: Não à Mineração! Sim a Vida e a Dignidade Humana!
Goiânia, 05 de março de 2021.
Articulação das CPT's do Cerrado
Nota originalmente publicada no site da Comissão Pastoral da Terra.
Arte: CPT / Foto do destaque: Eternit/Divulgação