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Incêndios de grandes proporções tomaram o Piauí nas últimas semanas

Diversos focos de incêndio atingiram unidades de conservação no Piauí a partir da semana do dia 06/09. O Parque Nacional da Serra da Capivara e o Parque Nacional da Serras das Confusões foram duas das unidades afetadas. O fogo também se aproximou de comunidades tradicionais de povos brejeiros e indígenas do estado. Entre 6 e 11 de setembro, o Piauí ocupou o primeiro lugar no ranking de focos de incêndio do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Foram 1.438 focos registrados no estado.

Segundo Mercês Alves, da coordenação do colegiado da Comissão Pastoral da Terra do Piauí (CPT-PI), a maior parte das áreas atingidas pelo fogo é de vegetação nativa da transição entre Caatinga e Cerrado. Mercês vive em Currais (PI), um dos municípios que mais queimaram na última semana. "Aqui é uma cidade bem pequena de estilo rural e em todo o entorno há uma grande quantidade de mata preservada, de vegetação originária. Ontem (13/09) mesmo meu vizinho falou que o fogo já estava chegando lá na casa do meu padrinho, ele fica lá na roça no Veredão e eles foram fazer o aceiro", contou Mercês. Os aceiros são uma estratégia de controle de incêndios: por meio da eliminação completa da vegetação em uma faixa, o fogo não se espalha para outras áreas de vegetação.

Incêndios criminosos

O agente da CPT Altamiran Lopes Ribeiro visitou comunidades tradicionais no Piauí e contou mais de dez focos de incêndio no caminho. Ele conta que é a primeira vez que vê queimadas dessas proporções no estado. "Antes era um foco acolá, mas agora, tudo ao mesmo tempo, é a primeira vez". Na semana passada, Altamiran visitou as comunidades brejeiras Melancias e Brejo do Miguel, em Gilbués (PI). As comunidades sofrem com investidas do agronegócio sobre seus territórios. "Em Brejo do Miguel teve um incêndio criminoso. Descobriram que foi o fazendeiro que está querendo avançar com a tomada do território para cima da comunidade", denuncia. O agricultor Adailton Batista conta que em Brejo do Miguel o fogo quase atingiu as casas dos moradores da comunidade. "Estamos com uma preocupação muito grande. No dia 8 de setembro desceu um fogo de lá da área dele até a nossa comunidade que só não queimou as casas porque teve ajuda dos vizinhos. Chegou pertinho, pegou as beiradas das casas, foi absurdo".

A comunidade já vinha sendo impactada pelo uso de agrotóxicos por parte do sojeiro. "Tudo que ele joga na área dele acaba dentro do córrego", afirma Adailton. As comunidades se organizam em brigadas populares para conter o fogo. Altamiran explica que a maior parte das brigadas são improvisadas ou contam apenas com caminhões pipa disponibilizado por cada município. Na madrugada de 14/09 o fogo atingiu a comunidade Vão do Vico, no município de Santa Filomena, onde vive o povo indígena Akroá-Gamella. Junior Akroá-Gamella mora na comunidade e conta que a população se organizou sozinha para barrar o fogo. "Foi muito fogo mesmo, saímos para combater algumas partes à noite para salvar os animais e roças de pastagem e de alimentação, mas não demos conta de tudo". Neste link é possível ver o incêndio em Currais (PI).


Texto: Julia Dolce/Articulação Agro é Fogo

Imagem: Comunidades Tradicionais do Piauí - Currais/PI

Povos e comunidades, Desmatamento e queimadas