CPT Mato Grosso realiza 1ª Semana Estadual de Comunicação e Combate ao Trabalho Escravo
A partir de hoje (22/09) até o dia 24 de setembro, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Mato Grosso, por meio de um evento online na página da entidade no Youtube e no Facebook, chama a atenção da população para a persistência da escravidão no Brasil e debate os desafios para enfrentar essa problemática. De acordo com dados da Campanha Nacional de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo da CPT, “De olho aberto para não virar escravo”, no Mato Grosso, entre os anos de 1995 e 2021, foram registrados 305 casos de trabalho escravo, com 9.346 trabalhadores envolvidos e 6.182 resgatados. Nesse período, 36 crianças e adolescentes foram encontrados em situação de escravidão.
Ao longo desses últimos 26 anos, das 56.466 pessoas libertadas em situações de escravidão no Brasil, 28.160 foram apenas nos nove estados que integram a Amazônia Legal. A região Centro-Oeste, entre 1995 e 2021, ocupa o segundo lugar no número de pessoas resgatadas do trabalho escravo no Brasil, 13.574, atrás apenas da região Norte, com 18.517 pessoas, o que corresponde a 24% e 33%, respectivamente. Já em 2021, até o momento, segundo a CPT, 81 pessoas já foram resgatadas no território amazônico.
As ocorrências flagradas de norte a sul do país abrangem, ultimamente, setores econômicos diversificados: pecuária, lavouras (especialmente café e cebola), carvoaria, mineração, confecção, construção civil e outros.
“A região norte de Mato Grosso não foge dessa realidade, as violações de direitos trabalhistas, violência psicológica e condições degradantes nos alojamentos são relatados por pessoas vítimas do trabalho escravo em fazendas e garimpos, com jornadas exaustivas de trabalho. Hoje em dia, por meio da retomada de áreas da União para destinação à Reforma Agrária, no lugar do latifúndio que explorava diversos trabalhadores, há o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Nova Conquista II, com 96 famílias que vivem da terra, produzindo e vivendo em paz”, explica o Regional Mato Grosso.
Esse caso relatado protagoniza o documentário “História de Luta, Resistência e Conquista da Terra: PDS Nova Conquista II”, que será lançado durante a 1ª Semana de Comunicação, na quinta, dia 23/09.
Pioneiro
A primeira denúncia pública foi feita por Dom Pedro Casaldáliga, então bispo da prelazia de São Félix do Araguaia (MT), em 1971. Por mais de 20 anos, o Estado negou a realidade assim denunciada, até que, por força das pressões internacionais impulsionadas pela CPT (na OEA, OIT e ONU), fosse criado um Grupo Móvel de Fiscalização, em 1995, e construída uma política nacional de erradicação do trabalho escravo, de 2003 em diante.
Após esses avanços na luta contra a escravidão, com reconhecimento internacional, muitos percalços foram encontrados neste caminho, como orçamentos e efetivos para as fiscalizações reduzidos e recorrentes ofensivas para desqualificar a política de combate ao trabalho escravo. “Essa situação ainda é muito naturalizada, por isso a importância da Campanha, pois ainda há muitas pessoas que vivem nessa situação de vulnerabilidade”, aponta o Regional Mato Grosso.
A 1ª Semana Estadual de Comunicação e Combate ao Trabalho Escravo conta com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fórum de Direitos Humanos e da Terra do Mato Grosso (FDHT), Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD) e Proteja Amazônia.
PROGRAMAÇÃO
22/09 (quarta) – Bate-papo virtual “Combate ao Trabalho Escravo Contemporâneo: Desafios e Enfrentamentos no Contexto Atual” | 18 horas (horário do MT) / 19 hrs (horário de Brasília)
23/09 (quinta) – Bate-papo virtual e lançamento do documentário “História de Luta, Resistência e Conquista da Terra: PDS Nova Conquista II” e a superação do trabalho escravo | 19 horas (horário do MT) / 20 hrs (horário de Brasília)
24/09 (sexta) – Evento de formação sobre a Campanha Nacional da CPT de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo e desafios na atuação dos agentes de base
Toda a programação será transmitida na página no Youtube da CPT (ComissãoPastoraldaTerraCPTNacional) e no Facebook (@CPTNacional)
Texto e arte: CPT Regional Mato Grosso / Foto: Cícero R. C. Omena