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Em carta pública, Assembleia do Povo Guarani e Kaiowá cobra justiça ao estado brasileiro diante do massacre de Guapoy

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Foto: Povo Guarani e Kaiowá

Em carta pública divulgada hoje, dia 25 de junho, a Assembleia do Povo Guarani e Kaiowá - Aty Guasu cobra investigação e clama por justiça ao estado brasileiro diante dos ataques, crimes e violações de direitos que ocorreram ontem (24) no território de retomada Guapoy, no município de Amambai (MS).

De acordo com informações da Aty Guasu e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), policiais e fazendeiros invadiram o território na manhã do dia 24/06, sem ordem judicial, com o objetivo de expulsar os indígenas que haviam iniciado o processo de retomada da área no dia 23/06. Até o momento, segundo informações da Aty Guasu apuradas pelo CIMI, "há pelo menos dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos 04), e ao menos 10 feridos”.

A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado expressa seu profundo pesar e se solidariza com os povos Guarani e Kaiowá. Unimos nossas vozes aos clamores e denúncias que a Assembleia Aty Guasu manifesta neste momento de profunda dor e indignação. Divulgamos, abaixo, a carta publicada pela organização indígena:


NOSSO SANGUE CLAMA POR JUSTIÇA!

A Grande Assembleia da Aty Guasu Guarani e Kaiowa vem a público trazer sua dor e total revolta e indignação com a ação covarde da PM e do Estado do Mato Grosso do Sul contra a comunidade e território de Guapoy.

Este ataque já está sendo chamada em todos os nossos territórios de Massacre de Guapoy.

Em mais uma ação ilegal da PM que tem agido como Cão de Guarda do ruralismo e da corja política ruralista no Estado, foram atacados crianças, jovens, idosos, famílias que decidiram, depois de muito esperar sem alcançar seu direito, retomar um território que sempre foi deles e que foi roubado no passado de nosso povo.

As imagens do Massacre falam por sí e são de fazer doer a alma do mais duro dos seres humanos. Tiros em jovens desarmados, violações a pessoas rendidas, disparos de helicóptero, tudo isso inclusive com uso de munição letal, deram o tom da covardia levada a cabo por um corpo policial que atuou sem mandado de reintegração de posse.

Inclusive é preciso denunciar que são dezenas de ações de despejo ilegal realizadas no mesmo modelo contra os povos do MS, sejam eles Kaiowa, e também contra outros povos como os Kinikinau, desde 2016, apenas não sendo maior o número porque na pandemia nos deixaram para morrer por falta de iniciativa de saúde do Estado, não precisando os policiais irem fazer o serviço sujo.

Logo na sequência do Massacre, típico de quem se adianta para esconder e acobertar o próprio crime, o secretário de segurança do convocou uma coletiva de imprensa cheia de mentiras e absurdos - chavões antigos que destilam preconceito contra nós, como associação de indígenas com drogas e sendo colocados genericamente como paraguaios - que nem mesmo se sustentam frente as inúmeras imagens que já vão ganhando o mundo.

Será que a criança , caída atingida por uma bala de borracha, que consiste em uma das imagens corresponde ao tráfico de drogas? Já são dois mortos, podendo ser maior o número (a comunidade fala em pelo menos 04) e ao menos 10 feridos. Nos solidarizamos ao mesmo tempo com o ataque realizado -no mesmo dia do Massacre contra a comunidade de Kurupi\Santiago Kue, onde a PM junto com fazendeiros abriu fogo contra famílias, por pouco não causando o mesmo estrago.

Nós, da Aty Guasu, levaremos a todas as esferas esse Massacre e não desistiremos até que os responsáveis sejam punidos e responsabilizados. Exigimos a imediata prisão e responsabilização do Governador do Estado do MS, do comando da BOP/PM, e do secretário de segurança do Estado do MS.

Da mesma forma, queremos e exigimos a investigação e prisão de mais três pessoas. Do servidor Nilton da Funai de Amambai e do servidor José da funai de Ponta Porã por coparticipação e facilitação do Massacre. Neste sentido, nossa dor não termina e diante dos áudios e provas, também pedimos a investigação e prisão do Capitão da reserva de Amambai, por facilitação do massacre. Não podemos permitir que divisões internas sejam instrumentalizadas pelo Poder Público e que isso nos tire a vida.Ainda em tempo, exigimos que o MPF de Ponta Porã, que tem se mostrado lento em compreender a realidade imposta, assuma seu dever em defender nossos direitos imediatamente, sob o risco de ser conivente com todos estes atos de violência contra nosso povo.

Aty Guasu, 25 de junho de 2022.

Povos e comunidades, Conflitos