Fecheiros do oeste da Bahia sofrem dois atentados em um dia
Pistoleiro xinga fecheiro de Porcos, Guarás e Pombas antes de tentar matar outro pequeno criador, que conduzia gado para margem oposta do rio
Paulo Oliveira, do Meus Sertões, e Thomas Bauer, da H3000 e CPT-BA
Jagunços atacaram o Fecho de Pasto de Porcos, Guará e Pombas no mesmo dia (11/04) em que pequenos criadores e agricultores foram baleados no fecho do Cupim, em Correntina, oeste da Bahia, em área contígua ao local da emboscada. Três pessoas ficaram feridas no atentado no Cupim, uma delas gravemente.
Em Porcos, Guarás e Pombas, um dos fecheiros foi perseguido pelos criminosos, que abriram fogo contra ele. No entanto, a vítima conseguiu escapar a cavalo, se embrenhando na mata nativa, preservada por ele e seus vizinhos.
A ação dos atiradores ocorreu cerca de três horas antes da cilada na localidade vizinha. De acordo com fontes policiais, é possível que o grupo seja o mesmo que fez os dois atentados. Está sendo investigado também se os pistoleiros seriam “seguranças” das fazendas vizinhas.
Os locais dos atentados, de acordo com documento da Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA) da Bahia, estão situados em uma área em que há sobreposição de seis fazendas.
Em março deste ano, em função da estiagem, os integrantes da associação de Porcos, Guarás e Pombas soltaram gado no fecho com vegetação nativa. Os animais pertencem às famílias da localidade.
Como é tradicional, após a solta, os fecheiros se revezam no pastoreio de bois e vacas para evitar perdas. Esta semana, após receberem a notícia de que pistoleiros e seguranças tinham afugentado os animais para o outro lado do rio, os pequenos criadores resolveram recolher parte do rebanho.
Quatro vaqueiros recolheram, na última segunda-feira (10/4), 16 cabeças. Na terça, cinco pequenos criadores retornaram para tentar pegar o restante do gado da comunidade, mas só encontraram nove bois.
Estima-se que havia na localidade 300 bichos, pertencentes a 10 vaqueiros de um total de 60 famílias das comunidades de Jacaré, Brejo dos Aflitos, Garrote, Matão, Sucuriú, Barra do Sucuriú, Cabeceira Grande, Tabocas, Bois, Sossego e Salobro, usuárias do fecho.
O grupo atravessou o rio e um deles recebeu a missão de conduzir o gado. Os demais continuaram a busca. Nessa hora, os quatro fecheiros foram abordados. Um dos bandidos, em uma motocicleta, xingou e ameaçou os vaqueiros.
Os criminosos disseram ainda que ali não era local de criar gado por não se tratar de fecho, nem área de solta.
“Se quiser criar gado, compra terra”, vociferou o criminoso.
A atenção deles se voltou para o vaqueiro que guiava o gado para a outra margem do rio. Em seguida, abriram fogo na direção dele. O guia se embrenhou na mata e conseguiu escapar.
A previsão era recolher o gado em maio, quando o capim das posses dos pequenos criadores estaria recuperado. No entanto, devido às ameaças, a volta começou a ser antecipada a partir de hoje. Os integrantes da comunidade tradicional querem apoio do aparato policial para resgatar o gado.
Os conflitos na área recrudesceram a partir de 2018. À época, a Comissão Pastoral da Terra e a Associação dos Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR) divulgaram nota exigindo a retirada das empresas de segurança dos territórios de Porcos, Guará e Pombas e a prisão imediata de pistoleiros, jagunços e policiais envolvidos em ataques e ameaças às comunidades de fecho de pasto.
FERIDOS NO CUPIM
Alecsandro de Jesus Matos, 43 anos, e Vivaldo José dos Santos, 68, baleados na terça-feira (11/4) por pistoleiros no braço e na costela, respectivamente, tiveram alta hoje do hospital municipal de Correntina. Gelson Neves, 58, atingido na barriga, continua internado.
Matéria produzida pelo site Meus Sertões em parceria com a Comissão Pastoral da Terra-BA
Foto em destaque: Fecho de Porco, Guarás e Pombos costuma ser atacado por pistoleiros que queimam o que encontram.
Crédito das fotos: Thomas Bauer – H3000/CPT-BA