Carta às Comunidades: “A Resistência é condição para nossa existência"
Andando pelas veias do Cerrado, juntamos nossas águas, nos Gerais/Cerrado de Correntina, na Bahia, entre os dias 28 e 30 de julho de 2017, na Escola Família Agrícola Padre André (EFAPA). Vindos dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Piauí, Tocantins, e daqui da Bahia, somos os povos Geraizeiros, Quilombolas, Assentados, Indígenas, Posseiros, Fundo e Fecho de Pasto, Trabalhadores Rurais, Vazanteiros, Veredeiros e Atingidos por Barragens.
Foram dias de intensa espiritualidade, de alegria, danças e tambores, sonhos e anseios compartilhados. Tudo isso nos fortaleceu e nos impulsionou para continuarmos unidos e unidas em todos os cantos desse nosso Brasil.
A força da luta pelos Territórios e pela Água, que nasce da resistência e da diversidade, bordou os debates e a construção de nossas lutas: Somos Povos do Cerrado e a nossa Vida depende dele. As comunidades são as guardiãs do Cerrado e, por isso, ele também depende de nós.
Temos a clareza que nosso inimigo é o Capital e a sua ganância destrutiva, representada nas grandes empresas, nas mineradoras, no agronegócio e no Estado submisso e injusto – esses nos encurralam, nos pressionam, nos violentam e, muitas vezes, nos matam. O espírito das águas de nossos rios e o vento que soprou nesses dias nos impulsionaram a desconstruir ideias, a construir fortalezas e esperanças, acima de tudo.
Juntos com as demais comunidades e povos do Cerrado, nos fortalecemos e propomos, assim, a dar passos como quem enxerga o invisível. Por isso queremos:
– Que a sabedoria da nossa ancestralidade seja repassada e valorizada a partir da prática e reprodução dos saberes e sabores do Cerrado, envolvendo os/as jovens nos processos de formação e ação cotidiana das comunidades.
– Construir nossa autonomia, fortalecer a autogestão/autogoverno nos Territórios e demarcar nossos próprios espaços de vida. Produzir nossos alimentos agroecológicos, livres dos agrotóxicos, garantindo a soberania alimentar do nosso povo. O Cerrado nos fornece muitos alimentos e o fundamental, a água, para a nossa sobrevivência.
– A formação alicerçada em nossas lutas, gerando conhecimento a todos e todas os/as membros das comunidades. Precisamos multiplicar espaços de formação, socializar as informações, lutar pela educação contextualizada e ocupar as universidades.
– Nos solidarizar, pois a luta é de todos nós, por isso, a dor de uma só comunidade é nossa dor também. Vamos nos juntar, articular as forças para garantir nossos espaços de vida, Território e Água livres, contra a concentração e a violência do agronegócio.
– Unidade, pois nesta luta não vamos sozinhos, temos as parcerias de outros movimentos sociais e organizações. Neste momento, o inimigo maior é o ilegítimo governo Temer (PMDB), submisso às grandes empresas nacionais e internacionais, que tem desmontado a Constituição brasileira e retirado os direitos de todo o povo. Nossa mobilização deve ser forte como os ventos da madrugada, que derrubam cercas, para derrubar esse governo.
– Ocupar os espaços públicos, fortalecer o trabalho de base, investir na comunicação, estabelecer lutas conjuntas em Defesa do Cerrado.
– A aprovação da PEC 504/2010, que transforma os biomas Cerrado e Caatinga em Patrimônio Nacional. A ausência mínima da legislação que proteja esses biomas coopera para que sejam extintos.
Por fim, nós, povos e comunidades do Cerrado, convocamos todos e todas a participarem ativamente da 1º Romaria Nacional do Cerrado, um momento místico de denúncia e anúncio que ocorrerá nos dias 29 e 30 de setembro, em Balsas (MA), com o tema “Cerrado: os povos gritam por água e território livres”. E lema: “Bendita és tu, ó Mãe Água, que nasces e corres no coração do Cerrado, alimentando a vida”.
Reafirmamos que a Resistência é condição para nossa existência.
Não cederemos jamais, Territórios Livres Já!
Fora Temer!
Povos e comunidades, Sociobiodiversidade, Soberania alimentar e agroecologia, Conflitos